quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Marco De Marinis - ITÁLIA


Professor de História da Cenografia e História do Teatro e do Espetáculo no Departamento de Música e Espetáculo da Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Bolonha. No seu campo de interesses científicos se encontram sobretudo a teoria teatral, a metodologia aplicada ao estudo do teatro, a experiência teatral deste século, com destaque para o chamado "Novo Teatro" do pós-Guerra, e a iconografia teatral. Integra o comitê de redação da revista "Versus-Quaderni di Studi Semiotici", dirigida por Umberto Eco, e é membro permanente da equipe científica da ISTA (International School of Theatre Anthropology), dirigida por Eugenio Barba. É autor de diversos livros, entre os quais "Teatro e Comunicazione" (1977), "Semiotica del Teatro - L‘Analisi Testuale dello Spettacolo" (1982), "Il Nuovo Teatro 1947-1970" (1987) e "Mimo e Teatro del Novecento" (1993). Dirige coleções de estudo e pesquisa teatral para várias editoras da Itália. Conferência transmitida via satélite às Universidades Brasileiras


Marinis prevê aumento da autonomia do ator

sobre o diretor


"Diretor é alguém que ensina aos outros algo que não sabe fazer." A frase, dita por Jerzy Grotowski em 1984, na Itália, foi utilizada por Marco de Marinis para ilustrar sua participação na mesa "A Formação do Diretor e a Ruptura dos Limites das Artes Cênicas", tema do terceiro dia do Fórum de Conferências e Debates do ECUM - Encontro Mundial das Artes Cênicas.


O tema "O Diretor como Espectador Profissional" (nome utilizado por Grotowski na conferência italiana) foi um dos pilares da explanação de Marinis sobre a diversidade de abordagem no trabalho de direção no século 20, intitulada de "La Regia e il Suo Superamento nel Teatro Del Novecento" (A Direção e Sua Superação no Teatro do Século 20". Marco de Marinis ressaltou a mudança de perfil do diretor neste século, organizando sua exposição em cinco momentos: "Esplendor e Miséria do Teatro de Direção", "A Outra Face da Lua: O Diretor Pedagogo", "Um Líder Acima de Tudo", "Como se Tornar Diretor" e "Em Direção a um Teatro de Pós-Direção".


Segundo ele, o diretor todo-poderoso ("demiurgo", em suas palavras) vem dando lugar ao diretor pedagogo (que lança mão da maiêutica, obtendo um conceito geral a partir de análises individuais). Marinis afirma que a transformação abarcou até mesmo alguns pais da dramaturgia moderna, como Constantin Stanislavski e Bertolt Brecht. "Depois de trabalhar por 30 anos com a direção demiúrgica, Stanislavski passou à maiêutica", disse, ressaltando que o teórico russo preconizava um modelo "demiúrgico não-despótico".


De acordo com o professor da Universidade de Bolonha, o diretor pedagogo se distingue pela capacidade de ser líder. "Não basta ter visão cênica. É preciso ter vontade de comandar.", disse. "Mas nem todos podem ser chefes. É preciso verificar se existe dom ou não."


Marinis lamentou a quase inexistência de literatura a respeito do trabalho de direção. "O que existem são brincadeiras, anedotas", disse, lembrando um episódio vivido por Peter Brook. Segundo ele, Brook teria respondido a uma carta em que lhe perguntavam sobre como alguém se torna diretor com um

"se auto-definindo".


Para Marinis, "há um mal-entendido politicamente correto em torno do teatro coletivo". Como exemplo, ele citou uma fala de Eugenio Barba mencionada em biografia escrita por Ferdinando Otaviani. "Não acredito na vocação do diretor escolhido democraticamente pelo grupo. O poder deve ser usado para estimular e não para sufocar." Marco de Marinis aposta que a tendência atual é a do desenvolvimento de um teatro que suprima a direção. Segundo ele, a situação do Odin Teatret, grupo de Eugenio Barba, é exemplar. "Há uma autonomia cada vez maior em relação ao diretor", avalia.


Marinis crê que seja uma "ilusão vã e reacionária" a noção de que pode renascer "o velho teatro de companhias". "Estamos na presença da proposta de uma forma moderna da figura do ator, que cada vez mais

acumula as funções de autor e diretor." Como exemplo, citou nomes como Bob Wilson, Dario Fo e do brasileiro Antonio Nóbrega, de quem assistiu "Figural" na abertura do ECUM. "Falo de um momento de superação, não de dominação. E superar é ultrapassar para a frente."

Um comentário:

Ligia Protti disse...

Olá, esta tua "reportagem" sobre o Marco de Marinis está bem interessante. Estou fazendo uma pesquisa para escrever um projeto de mestrado e as informações me foram muito úteis. Essas informações foram coletadas por você durante a Conferência do ECUM? Se não, de onde retirou-as?