segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Théâtre du Soleil

Aderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane Mnouchkin
Aderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane Mnouchkin
Aderbal Freire-Filho encontra integrantes da companhia em Paris
Programa Arte do Artista mostra as atividades culturas desenvolvidas em "La Cartoucherie" na FrançaPrograma Arte do Artista mostra as atividades culturas desenvolvidas em "La Cartoucherie" na FrançaAderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane MnouchkinAderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane MnouchkinJuliana Carneiro da Cunha apresenta a Aderbal Freire-Filho as instalações de  "La Cartoucherie"Juliana Carneiro da Cunha apresenta a Aderbal Freire-Filho as instalações de "La Cartoucherie"Nascido das efervescentes experimentações artísticas dos anos sessenta, o Théâtre du Soleil é, hoje, uma companhia que se encontra muito bem instalada num complexo de cenários, oficinas, palcos e salas de ensaio, montados numa antiga fábrica de munições nos arredores de Paris.
Nesta edição do Arte do ArtistaAderbal Freire-Filho adentra este mundo encantado, uma verdadeira utopia teatral conhecida como La Cartoucherie, com a companhia luxuosa de Marieta Severo, que assina, mais uma vez, a direção de fotografia do programa.
E é na Cartoucherie que ele encontra com Ariane Mnouchkine, fundadora e diretora da companhia, e com Juliana Carneiro da Cunha, a brasileira da trupe que é quem faz as honras da casa. Radicada por lá desde os anos noventa, a atriz e bailarina carioca já trabalhou comMaurice Bejart, foi premiada pela atuação no filme “Lavoura Arcaica”, de Luis Fernando Carvalho e brilhou nos palcos nacionais em diversas peças, incluindo “Mão Na Luva”, deOduvaldo Vianna Filho, dirigida por ninguém menos do que o apresentador do programa,Aderbal Freire-Filho.
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A companhia

Em atividade ininterrupta há 43 anos, o Théâtre du Soleil foi fundado em 1964 por Ariane Mnouchkine, junto com alguns colegas da Universidade de Sorbonne, como uma Sociedade Cooperativa Operária de Produção. Em 1970, a trupe se instala no Bosque de Vincennes, na Cartoucherie - antiga fábrica de munição do exército francês, nos arredores de Paris.Desde então, o Théâtre du Soleil se transformou em uma das maiores companhias da França e do mundo.

1964 - 1970

1964 - Ariane Mnouchkine funda com seus companheiros da ATEP (Associação Teatral dos Estudantes de Paris) a companhia Théâtre du Soleil e encena seu primeiro espetáculo, Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, a partir da adaptação de Arthur Adamov. No mesmo ano, escreve em parceria o roteiro do filme de Philippe de Broca L'Homme de Rio, produzido por Alexandre Mnouchkine, pai de Ariane.


1965 a 1968 - a companhia monta Capitaine Fracasse, de Théophile Gautier, criação coletiva do Théâtre du Soleil; A Cozinha, de Arnold Wesker; e Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare - textos adaptados por Philippe Léotard.
1969 - Les Clowns, em colaboração com o Théâtre de la Commune d'Aubervilliers. Apresenta-se em Paris e em turnê (Théâtre de la Commune d'Aubervilliers, Festival de Avignon, Piccolo Teatro, Elysée Montmartre) para 40 mil espectadores.
1970 - 1980

1970 - O Théâtre du Soleil se instala na Cartoucherie do Bosque de Vincennes, que a companhia utiliza primeiramente como local de ensaios e depois transforma em teatro.
         - o Théâtre du Soleil cria 1789, espetáculo sobre a Revolução Francesa, no Piccolo Teatro de Milão, cuja segunda parte, 1793, seria criada três anos depois na Cartoucherie. Apresenta-se em Paris e em turnê (Villeurbanne, Besançon, Caen, Le Havre, Martinica, Lausanne, Berlim, Londres, Belgrado) para 384 mil espectadores.

1974
 - Ariane Mnouchkine roda seu primeiro filme, por ocasião das últimas apresentações de 1789 na Cartoucherie, apresentando aos espectadores dessa criação coletiva um registro inédito do trabalho que vinha sendo desenvolvido na época, no Théâtre du Soleil.




1975
 - o Théâtre du Soleil cria L’age D’or, primeiro esboço de uma criação coletiva que faz uso de máscaras da Commedia dell'Arte para contar o mundo contemporâneo. Apresenta-se em Paris e em turnê (Varsóvia, Veneza, Louvain-la-Neuve, Milão) para136 mil espectadores.



1977 - em janeiro começa a filmagem de Molière, ou a vida de um homem honesto, de autoria de Ariane Mnouchkine, com os atores do Théâtre du Soleil. A filmagem dura seis meses e, pela primeira vez na história do cinema francês, associa a televisão (Antenne 2, e RAI) à produção do filme.

1979
 - o Théâtre du Soleil cria Mephisto, ou Le Roman d'une Carrière, de Klaus Mann, com adaptação de Ariane Mnouchkine. Apresenta-se em Paris e em turnê (Festival de Avignon, Louvain-la-Neuve, Lyon, Roma, Berlim, Munique, Lons-le-Saunier) para 160 mil espectadores.

1981 - 1989

O Théâtre du Soleil entra num período, que Ariane Mnouchkine depois definiria como o de: «um movimento dialético entre a pesquisa do teatro contemporâneo e a necessidade de reaprender nas fontes do teatro». Dramas históricos e comédias de Shakespeare: criação de Ricardo II, em 1981; A Noite dos Reis, em 1982, e Henrique IV (primeira parte), em 1984. Apresenta-se em Paris e em turnê (Festival de Avignon, Festival de Munique, Los Angeles, Berlim) para 253 mil espectadores.

A partir de 1985, Ariane Mnouchkine começa uma colaboração duradoura com Hélène Cixous, que escreve para a companhia várias peças inéditas e acompanha o trabalho coletivo.

1985
 - o Théâtre du Soleil cria A história terrível mas inacabada, de Norodom Sihanuk e Rei do Camboja, de Hélène Cixous, tragédia contemporânea sobre o Camboja às vésperas do genocídio. Apresenta-se em Paris e em turnê (Amsterdã, Bruxelas, Madri, Barcelona), para 108 mil espectadores.

1987
 - L’Indiade, ou L’Inde de Leurs Rêves, de Hélène Cixous, drama histórico que relata o nascimento da Índia moderna e a divisão de 1947. Apresenta-se em Paris e em turnê (Telavive), para 89 mil espectadores.

1989
 - a pedido da Assemblée Nationale, Ariane Mnouchkine filma com a companhia um conto humanista de Natal, La Nuit Miraculeuse, em comemoração ao bicentenário da Revolução Francesa. Na ocasião, a Assemblée Nationale e a Place de la Concorde lhes foram reservadas para algumas noites de filmagem.

Aderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane Mnouchkin
1990 - 1997

Ciclo dos Atridas: Ifigênia em Áulis, de Eurípedes; e Oréstia, de Ésquilo (Agamênon, em 1990; Coéforas, em 1991; Eumênides, em 1992). Apresenta-se em Paris e em turnê (Amsterdã, Essen, Sicília, Berlim, Lyon, Toulouse, Montpellier, Bradford, Montreal, Nova York, Viena), para 287 mil espectadores.

1994
 - La Ville Parjure, ou le Réveil des Érinyes, de Hélène Cixous. Apresenta-se em Paris e em turnê (Liège, Recklinghausen, Viena, Festival de Avignon), para 52 mil espectadores. O espetáculo também foi objeto de um filme de Catherine Vilpoux, que, além das imagens do espetáculo, apresenta documentos de arquivo relatando o escândalo do sangue contaminado que deu origem à fábula épica escrita por Hélène Cixous.

1995
 - O Tartufo, de Molière. Apresenta-se em Paris e em turnê (Viena, Festival de Avignon, Saint-Jean d’Angély, Liège, La Rochelle, Vienne en France, Copenhague, Berlim), para 122 mil espectadores. O processo de criação e a vida da companhia, durante os ensaios de O Tartufo, foram objeto do documentário Au Soleil Même la Nuit, de Eric Darmon e Catherine Vilpoux, em harmonia com Ariane Mnouchkine. 

1997
 - Hélène Cixous colabora com a escrita de Et Soudain des Nuits d’Éveil, criação coletiva que encena o exílio e o extermínio do povo tibetano. Apresenta-se em Paris e em turnê (Moscou), para 55 mil espectadores.

1999 - 2006

1999
 - Tambours sur la Digue, de Hélène Cixous, em forma de peça antiga para marionetes, representada por atores. Adaptação cinematográfica de Ariane Mnouchkine, em 2001, na Cartoucherie, com atores do Théâtre du Soleil. Apresenta-se em Paris e em turnê (Bâle, Anvers, Lyon, Montreal, Tóquio, Seul, Sydney), para 150 mil espectadores.

2003
 - Le Dernier Caravanserail (Odysées), criação do Théâtre du Soleil em duas partes (Le Fleuve CruelOrigines et Destins), que relata os destinos dos refugiados pelo mundo. Apresenta-se em Paris e em turnê (Festival de Avignon, Roma, Quimper, Festival Ruhrtriennale, Lyon, Berlim, Nova York, Melbourne, Atenas), para 185 mil espectadores. Ariane Mnouchkine assinou a adaptação cinematográfica inteiramente filmada na Cartoucherie, na ocasião transformada em verdadeiro estúdio de cinema.

Dezembro de 2006
 – Les Éphémères, espetáculo do Théâtre du Soleil, direção de Ariane Mnouchkine, música de Jean-Jacques Lemêtre.


A Diretora






                                                                    

Aderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane MnouchkinAriane Mnouchkine, nascida em 3 de março de 1939 em Boulogne sur Seine (cidade na margem direita do Sena, à 5 minutos de Paris), é diretora da companhia Théâtre du Soleil, que ela fundou em 1964 com seus companheiros da ATEP (Associação Teatral dos Estudantes de Paris).O Théâtre du Soleil era então uma jovem companhia cosmopolita que se instalou nos arredores de Paris, num
local que se tornaria um novo espaço de teatro: a Cartoucherie de Vincennes. A companhia criou novas
formas de organização e funcionamento privilegiando
o trabalho coletivo. O objetivo era já na época (num
período anterior a 1968) estabelecer novas relações
com o público e realizar algo que se distinguisse do
teatro burguês, para chegar a um teatro popular de
qualidade
.

Já na década de 1970 o Théâtre du Soleil
tornava-se uma das maiores companhias da
França
, tanto pela quantidade de artistas quanto

pela influência exercida internacionalmente.
Partindo da idéia de companhia semelhante a
uma tribo ou família, Ariane Mnouchkine
estabeleceu a ética do Soleil a partir de regras
elementares: as funções se confundem, todos
recebem o mesmo salário e, em cena,
a distribuição definitiva só é decidida
depois de vários atores terem passado por
diversos papéis.

Théâtre du Soleil é hoje uma das últimas companhias ainda existentes na Europa a funcionar desse modo.
Sua trajetória vem se construindo há mais de quarenta anos graças à fidelidade e à afeição de um público
numeroso tanto na França quanto em outros países. O percurso da companhia é marcado por uma
interrogação constante sobre o papel, o lugar do teatro e sua capacidade de representar a época atual.
Esse empenho de Ariane Mnouchkine em tratar das grandes questões políticas e humanas com uma
abordagem universal junta-se à pesquisa de importantes formas narrativas e à confluência das artes do 
Oriente e do Ocidente
.

Os 50 anos do Teatro du Soleil - por  




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Sim, TEATRO e não CIRCO. Estamos falando de duas instituições completamente distintas. Este ano, mais precisamente no dia 29 de Maio, o Teatro du Soleil completa 50 anos de existência e celebra esta data única com a montagem de Macbeth de Shakespeare.


Aderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane Mnouchkin
O trabalho do Teatro do Soleil, sob a direção de Ariane Mnouchkine está para o mundo das artes assim como o trabalho delicado e rebuscado de Fabergé está para o mundo das joias. Num mundo de fast foodfast art e fast tudo, o Teatro du Soleil se debruça em um trabalho por anos a fio de dedicação diária. Os artistas vivem juntos, tudo é comunitário, o salário é igual para todos, eles são verdadeiros operários da arte.
Aderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane Mnouchkin
“Os Náufragos da Louca Esperança”, último espetáculo visto no Brasil, demorou três anos para ficar pronto. E o resultado destes três anos é visível em cada cena e cada gesto. Na foto abaixo você pode ver a Ariane (de colete marrom) dirigindo seus atores em uma das cenas.
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Aderbal Freire-Filho entrevista a fundadora e diretora da companhia Ariane Mnouchkin
Grupos de 500 ou mais atores batem à porta de Ariane Mnouchkine a cada ano tentando conseguir uma chance de trabalhar com ela. Uma de suas atrizes mais constantes é a brasileiríssima e talentosíssma Juliana Carneiro da Cunha. Mas poucos são escolhidos. Tenho uma amiga que passou três anos trabalhando com o grupo, martelando, limpando, cozinhando, sempre sonhando com o momento que subiria ao palco, mas… esse momento nunca chegou e ela voltou ao Brasil com palavras nem sempre elogiosas à grande Ariane. Mas é assim… difícil ser genial e unânime ao mesmo tempo.
Pessoalidades à parte, os nomes que elevaram o nosso senso estético, provocando e encantando plateias através de décadas por todo o mundo também estão envelhecendo e nos abandonando (vide Pina Bausch) e, apesar de contradizer o dito de que “ninguém é insubstituível” e de sabermos que novos nomes também surgem e serão grandes referências em seu próprio tempo, artistas como Bob Wilson, Antunes Filho, Zé Celso, Peter Brook e Ariane Mnouchkine, entre outros entraram no panteão dos maiores criadores de nossa época e serão citados em séculos por vir.
Então, não perca tempo e corra para assistir aos seus trabalhos enquanto eles ainda carregam o pulso e o DNA de seus criadores! Próxima viagem à França? Se você tiver sorte pode tentar reservar seus ingressos para Macbeth através do site. Ariane sempre recebe o público na porta, como uma anfitriã perfeita, apontando os assentos e desejando uma boa experiência a todos.
Viva o “Theatre du Soleil”, viva Ariane e seus operários artistas, e que muitas outras peças ainda sejam produzidas, únicas, raras, preciosas, assim como um ovo Fabergé!